sexta-feira, 1 de outubro de 2010

  Marcada pela era da avaliação e da quantificação, a produção científica encontra, também em seu território, uma modalidade de controle orientada pela produtividade. A questão da autoria e da originalidade cede lugar ao saber acéfalo dos enunciados científicos e à massificação reprodutiva de idéias.
  A psicanálise caminha na contramão dessa tendência mundial. Se Lacan situa na impossibilidade de uma avaliação do amor, a miragem de toda metria relativa à filia, é na (des)medida em que o amor, distintamente da admiração, não se deixa determinar pelos predicados variavelmente mensuráveis do desempenho. Por isso dizemos, a propósito da paixão da metria, cuja expansão hoje parece não mais conhecer limites, que seu furor avaliativo requer a extinção da filia. A metria é a paixão que germina no deserto da filia.
  Ao lançarmos, então, a bibliofilia contra a bibliometria, temos decerto em mente zelar pelo espaço do incomensurável no campo da pesquisa em psicanálise, em sua intersecção com o ensino universitário. Mas interessa-nos igualmente dar visibilidade institucional à crítica, que a psicanálise nos ajuda a formular, a propósito dos dispositivos técnicos de avaliação de pesquisa na universidade, submetidos a parâmetros numéricos de produtividade por período de tempo, freqüentemente realizados através da mensuração de volume de publicação. Em tais circunstâncias, não é mais o valor de uma descoberta, mas a quantidade de publicações o que progressivamente passa a definir a importância de um pesquisador. Vale lembrar que muito comumente a pesquisa original e audaciosa se vale de meios precários para se difundir, como se ilustra no caso recente do matemático Perelmann, a quem a comunidade científica deve a demonstração do agora teorema de Poincaré: não foi por meio das grandes revistas especializadas, mas através de um site internet de livre acesso que ele divulgou sua memorável descoberta.
  O risco é o de que a mediocridade se torne a norma. Sobre esse risco colocamo-nos a trabalho para evitar que, em nome da produtividade medida em termos somente quantitativos, incorrêssemos no mesmo erro. Assim, esperamos com esse colóquio, trazer à tona a contribuição para esse debate nacional, assim como fazer circular e tornar públicos os resultados de pesquisas realizadas segundo a orientação psicanalítica, especialmente no estado de Minas e a partir da pós-graduação strictu sensu da UFMG.

Nenhum comentário:

Postar um comentário